Realização MLB - Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas
Ficha Técnica Completa
Galeria de fotos
Territórios
A Vila Corumbiara surge em 1996, quando 379 famílias que integravam núcleos de sem casa na região do Barreiro, devido à demora e à baixa produção de moradia, ocuparam um terreno no Vale do Jatobá, inaugurando um novo momento de lutas na cidade. A ocupação foi organizada por diversas lideranças e militantes que fundaram o MLB, como a companheira Eliana Silva, que se dedicou amplamente à luta pelo direito à moradia e à cidade, tornando uma importante referência para os movimentos da luta popular. As estratégias de auto-organização da ocupação inspiraram fortemente as estratégias do MLB, principalmente nas comissões de trabalho e no planejamento urbano das ocupações. A ocupação recebeu esse nome em homenagem aos mortos num conflito em 1995 entre camponeses sem terra e forças militares do Estado de Rondônia, que ficou conhecido como Massacre de Corumbiara. Resistindo às ameaças do cerco policial e às ordens de despejo, a ocupação começou uma intensa jornada de lutas por direito à rede de energia, de água e de esgoto, transporte, creche comunitária, coleta de lixo, iluminação pública e transporte escolar, que foram sendo conquistadas com muita combatividade. Hoje, com mais de 25 anos, a Vila Corumbiara se transformou em um bairro consolidado e regularizado.
A ocupação Eliana Silva se iniciou na madrugada do dia 21 de abril de 2012, quando cerca de 200 famílias sem teto, organizadas pelo MLB, ocuparam um terreno público na região do Barreiro, que não cumpria sua função social. A ocupação homenageia a companheira Eliana Silva, uma das mais destacadas fundadoras do MLB, liderança da ocupação Vila Corumbiara e grande lutadora popular. Devido à grande repressão da Prefeitura e do Estado, uma reintegração de posse violenta ocorreu menos de um mês depois, surpreendendo as famílias com o grande aparato policial. Apesar das dificuldades, as famílias continuaram organizadas junto ao movimento e, no dia 22 de agosto de 2012, realizaram uma nova ocupação, também em um terreno vazio, próximo àquele do despejo anterior. Hoje a Ocupação Eliana Silva abriga cerca de 300 famílias; uma creche autogestionada pelo movimento, a creche Tia Carminha, em parceria com o Movimento de Mulheres Olga Benario; um projeto de parque para proteção das nascentes existentes no terreno e nas ocupações próximas, entre diversas outras conquistas. Foi reconhecida em 2018 como área de interesse social em decreto da Prefeitura, dando prosseguimento ao seu processo de regularização, assim como a instalação de iluminação pública, rede de esgoto, água e energia elétrica. No final do mês de novembro de 2024, os moradores da Ocupação Eliana Silva foram surpreendidos por um despacho da juíza Rafaela Kehrig Silvestre, de primeira instância, para o cumprimento da reintegração de posse da ocupação. Com forte denúncia e mobilização de toda a cidade, em meados de dezembro, a juíza suspendeu a liminar do despejo e encaminhou o processo para a comissão de resolução de conflitos fundiários do Tribunal de Justiça.
A ocupação Vito Giannotti surge em 15 janeiro de 2016 com o objetivo de dar função social a um prédio de propriedade do Instituto Nacional de Seguro Social—INSS, abandonado há mais de 15 anos. A ocupação foi realizada por cerca de 30 famílias, organizadas pelo MLB, pela Central do Movimentos Populares – CMP e pela União por Moradia Popular – UMP. O nome e o dia da ocupação homenageiam o comunicador social Vito Giannotti, importante articulador da luta pela comunicação popular no Brasil, que faleceu em 2015. A ocupação resiste na área portuária do Rio, em uma região de grande interesse do mercado imobiliário a partir do Projeto Porto Maravilha. Apesar das ameaças de reintegração de posse, neste seis anos de luta, a ocupação pautou a destinação do prédio para habitação de interesse social; foi vencedora de um edital de chamamento público da Caixa Econômica Federal para a aquisição e reforma completa do prédio, mas que está paralisado; e, em 2020, foi incluída no Plano de Metas e Diretrizes do Ministério do Desenvolvimento Regional para a aplicação dos recursos alocados junto ao Fundo de Desenvolvimento Social. Em 2024, foi selecionado no Programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades, por meio da Central de Movimentos Populares – CMP, sendo destinado para requalificação e implantação das unidades habitacionais para as famílias ocupantes.
A ocupação Luisa Mahin se iniciou na madrugada do dia 25 de setembro de 2016, quando 25 famílias, organizadas pelo MLB, ocuparam um prédio do governo do Estado no bairro do Comércio, em Salvador, que há anos estava abandonado.O nome Luísa Mahin foi escolhido em homenagem a uma mulher africana que foi trazida ao Brasil como escrava e se tornou protagonista de vários levantamentos contra a escravidão na Bahia no século XIX, inclusive a famosa Revolta dos Malês. Além da moradia das famílias, a ocupação abrigava a sede da Escola Popular Carlos Marighella, que realizava aulas de alfabetização para jovens e adultos e um cursinho pré-vestibular que atendia uma turma de 40 alunos. Mesmo com ameaças de reintegração de posse, as famílias da ocupação resistiram por mais de um ano, quando se fechou um acordo com o Governo do Estado para a garantia de moradia digna para as 25 famílias da ocupação, que desocupariam o prédio e seriam reassentadas em um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida em São Cristóvão. O prédio foi desocupado em junho de 2018, mas durante esses anos, outras lutas tiveram que ser travadas pelas famílias, uma vez que o acordo não foi cumprido por parte do Estado.
A ocupação Valdete Guerra se iniciou na madrugada do dia 23 de fevereito de 2015, quando cerca de 200 famílias sem teto, organizadas pelo MLB, ocuparam um prédio dos Correios abandonado há mais de 10 anos, em Fortaleza. A ocupação foi batizada de Valdete Guerra, em homenagem à militante e lutadora popular do MLB-RN, que faleceu em 2011 na luta contra o câncer. A ocupação foi despejada após 15 dias de resistência, sem dar resposta sobre a moradia das 200 famílias.
A ocupação Carolina Maria de Jesus surge no dia 06 de setembro de 2017 quando 200 famílias, organizadas pelo MLB, ocupam um prédio que estava vazio há quase 10 anos em plena Avenida Afonso Pena. A ocupação foi a primeira ocupação vertical do movimento em Minas Gerais, em um edifício que descumpria sua função social. A ocupação homenageia Carolina Maria de Jesus, mulher negra, mãe solo de quatro filhos, semialfabetizada, moradora da favela do Canindé e autora do livro Quarto de Despejo – Diário de uma favelada. Após meses de negociação com o Estado, as 200 famílias da ocupação conquistaram um acordo favorável. O acordo garantiu a mudança de parte das famílias para outro prédio, que também estava abandonado há mais de 20 anos, no hipercentro da cidade, enquanto outra parte aguarda a construção das moradias definitivas em terreno cedido pelo Estado. Após 4 anos da assinatura do acordo, as famílias continuam esperando o cumprimento total do acordo por parte do Estado.
A ocupação Paulo Freire surge na madrugada do dia 31 de maio de 2015 quando 300 famílias, organizadas pelo MLB em Minas Gerais, ocuparam um terreno abandonado há anos, também no Vale das Ocupações do Barreiro. O Vale já era composto pelas ocupações Eliana Silva, Horta, Irmã Dorothy, Nelson Mandela e Camilo Torres. A ocupação homenageia Paulo Freire, importante educador brasileiro, que sempre inspirou autonomia, liberdade e consciência política nos processos de educação popular. Hoje, a ocupação está fortemente organizada e consolidada, existindo decisão judicial que obriga o poder público a iniciar a regularização dos territórios com a instalação de rede de água e esgoto. O posteamento da iluminação pública já foi implantado nas ruas da comunidade.
A ocupação Temer Jamais se iniciou na madrugada do dia 18 de setembro de 2016 com cerca de 300 famílias organizadas pelo MLB. A ocupação se deu no mesmo terreno no Barreiro em que a primeira ocupação Eliana Silva foi brutalmente despejada em 2012 e que, mesmo após 4 anos do despejo, continuava abandonado sem cumprir nenhuma função social. No mesmo dia, a ocupação sofreu um despejo ilegal e muito violento por parte da polícia militar, que, além de expulsar as famílias, atacou as ocupações do entorno com bombas jogadas de um helicóptero.
A ocupação Manoel Aleixo, organizada pelo MLB, surgiu na madrugada do dia 1º de maio de 2017 em Mário Campos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com as famílias que haviam sido violentamente despejadas da ocupação Temer Jamais, no ano anterior. No mesmo dia, mesmo sem apresentar ordem judicial, a polícia militar despejou de forma ilegal e violenta as famílias. Na ação de despejo, atingiram com uma bala de borracha o rosto de uma criança de 14 anos. Apesar da ação truculenta, as famílias se reorganizaram no mesmo ano e fizeram, com o MLB, a ocupação Carolina Maria de Jesus no centro da capital. Com o avanço das negociações com a COHAB-MG, parte das famílias mudaram para outro prédio no centro e 120 delas passaram a aguardar o reassentamento definitivo em um terreno do governo do estado. Em 2024, a ocupação consegue a doação de um terreno em Sabará, MG, e a proposta de empreendimento habitacional é selecionada pelo programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades para construção das casas, processo ainda em andamento para contratação e início do projeto e obra.
A ocupação Manoel Lisboa surgiu no dia 11 de julho de 2016 com as 150 famílias, organizadas pelo MLB, que em junho de 2011 realizaram a ocupação Frei Tito de Alencar e que saíram do local com um aluguel social de cinco meses e com a promessa da garantia da moradia. A ocupação se deu no mesmo prédio ocupado em 2011, uma antiga escola que estava abandonada há mais de 13 anos pela Arquidiocese de Fortaleza. A ocupação foi batizada de Manoel Lisboa, em homenagem ao revolucionário assassinado pela ditadura militar. As famílias exigiam a entrega de unidades habitacionais no Residencial José Euclides, no Jangurussu.
A ocupação Lanceiros Negros foi realizada por cerca de 70 famílias, organizadas pelo MLB no Rio Grande do Sul, que ocuparam no dia 14 de novembro de 2015 um prédio público abandonado há mais de 10 anos no centro da capital. O nome da ocupação marca a data de início da mesma. Este dia marca 171 anos do massacre de Porongos, ocorrido em 1844, no qual centenas de escravos que lutavam por sua liberdade foram assassinados no final da Guerra dos Farrapos. Mesmo com algumas ameaças de despejo e cercos da Brigada Militar, a ocupação resistiu por 1 ano e 7 meses. No dia 14 de junho de 2017, a Brigada Militar realizou uma reintegração de posse violenta, utilizando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha sobre os moradores. Na ocasião, moradores da Ocupação e o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa foram detidos. Passados quase cinco anos do despejo, o prédio segue trancado e abandonado. Após a reintegração, as famílias ocuparam, no dia 5 de julho de 2017, um hotel abandonado na Rua dos Andradas, denominando ocupação Lanceiros Negros Vivem, mas novamente foram removidas, cerca de 40 dias depois. Este hotel também permanece abandonado.
A ocupação Leningrado, primeira ocupação do MLB em Natal, surge na madrugada do dia 09 de abril de 2004 quando cerca de 600 famílias organizadas pelo MLB ocuparam um terreno vazio no bairro Planalto, zona oeste de Natal. O nome da ocupação é em homenagem à cidade soviética, berço da revolução, que foi sitiada durante a Segunda Guerra Mundial pela Alemanha nazista. Em 2008, conquistaram a entrega do Conjunto Habitacional Emanuel Bezerra dos Santos, para o reassentamento de parte das famílias da ocupação. O restante da ocupação permaneceu em resistência por muitos anos até conquistarem a moradia popular no Conjunto Habitacional Leningrado, conquistando, ainda, linha de ônibus, calçamento e outros serviços básicos.
O Vale das Ocupações é um território de luta na região do Barreiro, em Belo Horizonte, que agrega hoje seis ocupações urbanas: Horta, Camilo Torres, Irmã Dorothy, Eliana Silva, Nelson Mandela e Paulo Freire. Antes de surgirem as ocupações, os terrenos conformavam o Distrito Industrial do Vale do Jatobá, que foi criado na década de 1970 pelo governo do Estado no intuito de incentivar a implantação de indústrias na região e de gerar novos empregos. Os terrenos eram doados com esse compromisso, mas com um prazo para a implantação das indústrias, caso não fossem construídas, o terreno deveria retornar ao Estado. E foi o que aconteceu com muitos deles, que permaneceram vazios por décadas e com a dúvida da real propriedade de cada um. A primeira ocupação que surgiu na região foi a Horta, há mais de 30 anos, com poucas famílias margeando um dos córregos do vale. Seu nome se refere ao modo de vida das famílias, relacionado ao plantio e criação de animais. A partir de 2008 é que os movimentos sociais de luta pela moradia passaram a ocupar outros terrenos que compunham este vale, configurando assim o Vale das Ocupações. A ocupação Camilo Torres, de 2008, é um marco histórico na retomada das ocupações de terreno organizadas na cidade. Depois dela surgem: Irmã Dorothy (2010), Eliana Silva (2012), Nelson Mandela (2014) e Paulo Freire (2015).
Conversas